Sobre assédio e corpos que não são públicos.

Sobre assédio e corpos que não são públicos.

O caso – público – de assédio que foi filmado na última quarta-feira (16) na Alesp, no qual Fernando Cury se sentiu na liberdade de acessar o corpo da Deputada Federal Isa Penna (PSoL), evidencia o modo como, até hoje, o que parece público a muitas pessoas, especialmente homens, é o corpo das mulheres. Fernando não se intimidou diante da presença de câmeras na Assembléia, ele fez aquilo que faria em qualquer outra situação: sem o consentimento da mulher, tocou o seu corpo, gerando desconforto e repulsa.
As mulheres, há muito, deixaram de se calar diante desses abusos, ‘pequenos’ abusos cotidianos, que se tornam imensos à medida que todas as vezes nos convém repetir: NOSSOS CORPOS NÃO SÃO PÚBLICOS! NÃO ESTÃO A SERVIÇO DE OUTROS! NÃO PODEM E NÃO DEVEM SER TOCADOS SEM O NOSSO CONSENTIMENTO!
Tratar a mulher como se trata a coisa pública, à qual todos deveriam ter acesso, é uma violência, e estamos dizendo sobre isso há décadas. Nós, mulheres, não aceitaremos, não mais nos calaremos diante das tantas violências que tentam nos colocar como objetos de uso seja para pequenos prazeres duvidosos, seja para nos coagir em qualquer situação. Não! Como disse a psicanalista Vera Iaconelli a respeito deste caso, ‘na dúvida, não entre’. Não invada, não se sinta à vontade para fazer – com ninguém – o que achar mais conveniente! Ao invés disso, reconheça aquilo que o outro diz, ouça sua voz, escute seus sinais.
O que se tornou público nesse caso foi, além da violação por parte de Fernando, o aval dos colegas do deputado diante do assédio, e o desconforto de uma mulher que estava exercendo seu trabalho.
Nós, do Psicanalistas pela Democracia (PPD), repudiamos todos esses movimentos que mantém a misoginia estrutural em sua forma mais sádica: gestos aparentemente inofensivos, mas que sustentam calar sujeitos usando o próprio corpo como objeto de poder, mais uma vez reproduzindo a tentativa de subjugar, de aniquilar a mulher como agente de sua própria história.
Manifestamos o nosso total apoio à deputada Isa Penna, com o desejo de que esse caso receba a punição necessária para que não mais se repita!