O PPD

No dia 07 de abril de 2016, mais de 50 anos após o golpe civil-militar e mal chegados os 30 anos de democracia no Brasil, realizou-se no Instituto de Psicologia da USP o ATO: Psicanalistas pelo apoio incondicional à democracia no Brasil. Mais de 300 psicanalistas, alunos e simpatizantes compareceram ao ATO e outros milhares assistiram pela internet e, depois, no site www.psicanalisedemocracia.com.br, que foi criado especialmente para a divulgação do vídeo, apoios, manifestações e artigos que respondessem à convocação da chamada. Ao mesmo tempo, novos ATOs manifestações e petições, organizados por outros psicanalistas, ocorriam em outros estados do país.

Os efeitos da negação de conquistas sociais e políticas no presente, querem determinar, mais uma vez, que alguns são sujeitos e outros são assujeitados; que alguns são dignos de escuta e outros são calados; que alguns são intérpretes e outros são categorias; que alguns vivem histórias arquiváveis, outros, histórias calcináveis. A democracia no país está ameaçada e, diante de tal ameaça é da palavra singular proferida como reconhecimento do sujeito público é que se carece. O site “Psicanalistas pela Democracia” vem testemunhar experiências públicas e coletivas, convocando todas outras falas singulares, para que se constitua o pluralismo contra a hegemonia, e apela à singularidade como esteio da experiência pública.

Não somos apenas os eventuais herdeiros dos psicanalistas do passado, somos também aqueles que interpretam essa tradição e decidem sobre sua transmissão. No princípio foi, e sempre será, o ATO; frase que finaliza o texto Totem e Tabu de Freud e instaura sua condição de gênese. Nesse que é o país onde a psicanálise frutificou de maneira extraordinária, seja possível imaginar uma frátria constituída por irmãos capazes de acusar a autoria das coisas eles mesmos matam e fazem nascer, como poetas épicos- fundadores, contestadores, atores e críticos das tiranias modernas-, e não mais precisem (e queiram) se escorar no pretenso anonimato da horda muda, submissa e cativa, falada por outros que melhor saberão sobre ela.