Nosso papel, na vida, é de fazer durar o instante
Um pensamento sobre a função da utopia vem, portanto, provocar a imaginação a abrir outros caminhos possíveis ao pensamento para que não fiquemos paralisados na obscuridade do instante (Edson Luiz André de Sousa)[2].
O real é o que nos coloca diante do limite do dizível: o inarrável, o imponderável, o desassossego radical onde a angústia nos joga. Aqui, este real é necessário como a maré que apaga as pegadas na areia e assim outra escritura e percurso é possível. Vejo a utopia nesta função: um desassossego do presente acossado pela responsabilidade com o amanhã (Edson Luiz André de Sousa)[3].
Nome, voz, história
Todo nome diz de uma vida, que está em curso ou que já terminou. Todo nome terá ou teve uma morte. Todo nome tem uma história, um corpo, uma voz, um rosto, amores, anseios, memória. Todo nome inscreve memória e histórias de sua vida nas vidas pelas quais cruzou. A História se faz, assim, de vozes em si mesmas polifônicas, que tecem coletivamente – muitas vezes invisíveis, mas nunca anônimas – os percursos e cursos do mundo.
Toda vida tem nome e história. Mesmo a morte: toda morte tem uma história. O instante da morte fechando a sucessão de instantes entrelaçados na história de um nome, de uma vida. E, em vida e nas produções e traços que nela deixamos, somos depositários e testemunhos de instantes vividos. Temos a responsabilidade ética e utópica diante dos outros, diante do Outro, de fazer ouvir as histórias e vozes que formam a História.
Um nome. Ele diz também da transmissão a um sujeito em vias de se constituir da linguagem, do desejo, da invocação da voz à qual precisamos responder, no silêncio e na ausência de resposta da voz do Outro, para poder existir enquanto falasser. A voz, que simultaneamente opera a função de chamar à alienação e invocar a separação, incide no sujeito não apenas no momento mítico em que, ao receber um nome e a ele dar corpo, advimos como sujeito em resposta ao real.
Também em momentos históricos em que há uma forte e opressiva tentativa de alienação mortífera, de esquecimento e silenciamento de nomes, histórias e vidas, a função da voz reincide: é preciso responder, tomando posição com o corpo, com voz, à violência desta busca massiva de sufocamento, de aniquilamento, de homogeneização e destruição das diferenças subjetivas. Destruição disso que é, exatamente, o que nos torna sujeitos.
A história humana é brutalmente pontuada por momentos em que tais tentativas se tornam mais predominantes, em que nomes e vidas são banalizados ao ponto de se buscar reduzi-los a números. Números que serão logo esquecidos, apagados dos “anais da História”, até mesmo porque a banalização da vida é certamente tão extrema que muitos desses nomes, dessas vidas, não chegam sequer a ser “contados”. Eles “simplesmente” desaparecem, são omitidos, como se nunca tivessem surgido.
Isto apenas para alguns poucos, que fazem parte da elite dominadora e que distorcem atrozmente a invocação humanizante da voz ao transformá-la em autoritarismo superegoico elevado à mandamento mortífero de destruição do outro como diferente. Como nos cantaria Caetano Veloso[4]: “É que Narciso acha feio o que não e espelho”. E o extermina, completamente cego à evidência de que é a diferença que nos torna humanos. E que, nisso, somos iguais. Ainda que as diferenças de posicionamentos subjetivos e, ainda mais, sociais criem abismos e desigualdades completamente inaceitáveis.
A grande maioria da humanidade, chamada cinicamente de “minorias” por aqueles que a oprimem, sofre com cada nome e cada vida que se tenta apagar, silenciar, esquecer. Essa dor, não a esquecemos. Ela se imprime em nossos corpos, ela se expressa nos atos, nas palavras, nas artes que criamos. Ela vem sendo transmitida, numa tentativa não oficial de elaboração de um luto que, no Brasil, data da invasão colonialista e escravista, tendo suas raízes na banalização da vida do outro “que não é espelho”, tão secularmente antiga quanto destrutiva. O genocídio iniciado nos primórdios da construção do Brasil como nação continua presente e intenso, sem pausa verdadeira, até hoje.
A “banalidade do mal”, destacada pela análise filosófica crítica de Hanna Arendt[5], sustenta – sem nunca poder justificar – genocídios colonizadores, escravidões explícitas ou veladas, guerras “santas” ou profanas, ditaduras instituídas por golpe militar de estado ou por mentiras e manipulação ideológica, feminicídios e todo tipo de racismo e preconceito que mata, gestões assassinas de epidemias… Banalidade que busca não apenas destruir vidas, mas lhes tirar seus nomes.
A banalidade do mal precisa, com urgência, cair. Precisamos, com urgência, respirar e lutar para que todos possamos respirar, sem que algo ou alguém nos sufoque. Pois todo nome e toda vida importam. Vidas que foram brutalmente tiradas, vidas que desistiram de lutar e escolheram o suicídio, vidas que mal começaram a viver e já foram exterminadas, vidas negras, indígenas, periféricas, idosas, quilombolas, ribeirinhas, marginalizadas, assustadas, fragilizadas, angustiadas, famintas, exploradas, vulneráveis…
Vidas. Sem adjetivos. Mas com nomes, e aqui lembramos alguns: Miguel Otávio Santana da Silva, Urur Eu Wau Wau, as crianças e adolescentes que se suicidam massivamente em Altamira[6], Evaldo Rosa, Marielle Franco, Anderson Pedro Gomes, Ágatha Felix, George Floyd, João Pedro Matos Pinto, Mouhamed Cisse, Flávio Migliaccio, Dorildes Laurindo, Iago César dos Reis Gonzaga, Leandro Rodrigues da Matta. Toda vida importa e resiste a ser banalizada em números.
Inumeráveis
Se acontecer afinal
De entrar no nosso quintal
A palavra tirania
Pegue o tambor e o ganzá
Vamos pra rua gritar
(Jonathan Silva)
No final do ano passado e início deste ano, começamos todos a ouvir falar, a princípio de longe e cada vez mais perto, mais presente, mais estranhamente presente, do “novo coronavírus” (COVID-19). Os impactos no mundo e nas vidas pessoais de cada um de nós[8]não tardaram a se mostrar devastadores e inéditos em nossos tempos, sendo, no entanto, decorrência direta dos rumos que a mercantilização desenfreada da vida tem há séculos tomado.
Entre, de um lado, a sideração diante do horror de tantas perdas, de vidas perdidas e, em países com autoritários no poder como o Brasil, o descaso monstruoso face à vida, e, do outro lado, “a esperança equilibrista[9]” de um despertar coletivo face a esse horror indizível, como construir uma ética do não esquecer e do não silenciar? Uma questão que, há meses, vem me trabalhando…
Não há uma única resposta para isso. Há esboços, esforços de construções individuais e coletivas, manifestos, manifestações nas ruas, falas, escritos, movimentos antifascistas, gritos, arte, poesia, música, solidariedade, panelaços, debates críticos em meios sociais virtuais… Há caminhos que querem despertar e consolidar despertares, que visam testemunhar e gravar na memória social os nomes e vozes que partiram, que podem abrir uma via de fazer o instante permanecer sem cair na obscuridade silenciada e desamparada. Há utopia.
Nos primeiros momentos da pandemia, tomada talvez por uma espécie de sideração, as palavras que tento timidamente articular nesse espaço surgiam claramente em diálogos com próximos, ou em ressonância com leituras de escritos diversos (ensaios, reportagens, opiniões, poesias, letras de músicas, desabafos, protestos…), dentro os quais, por vias diferentes, se destacaram para mim as palavras de Edson Luíz André de Sousa[10]e de Eliane Brum[11]. Neles, podia ouvir minha voz representada, seja pela construção ética de um espaço para a memória e para dar visibilidade aos “memoriais minimalistas[12]”, seja pela denúncia crítica das atrocidades do (des)governo brasileiro atual em todas as suas esferas, das quais, para além da crise epidêmica e política, precisamos também destacar o “ecossídio” que tem sido descaradamente feito e acentuado durante a pandemia.
Não que as palavras me faltassem, elas vinham, há meses, sendo geradas, numa tentativa de buscar uma via de expressar o que escapa, justamente porque é da ordem do inominável. É impossível dar nome, pôr em palavra, o horror. As palavras – não apenas estas minhas, mas também as lidas e as escutadas, sobretudo na clínica[13], em que nos colocamos à escuta do sofrimento psíquico singular que surgiu em resposta, com os traços já existentes em cada um, à pandemia – podem, contudo, dar a ele um contorno e relançar a invocação de humanizar e de, ao tomarmos uma posição com corpo e voz, renovar o pacto civilizatório. Relendo A rosa do povo, Carlos Drummond de Andrade, que reúne poemas por ele escritos entre 1943 e 1945, em plena Segunda Guerra Mundial, me deparo com Nosso tempo, onde gritam esses versos que falam também da nossa atualidade:
Calo-me, espero, decifro.
As coisas talvez melhorem.
São tão fortes as coisas!
Mas eu não sou as coisas e me revolto.
Tenho palavras em mim buscando canal,
são roucas e duras,
irritadas, enérgicas,
comprimidas há tanto tempo,
perderam o sentido, apenas querem explodir[14].
Não calar. Não esperar que “as coisas, talvez, melhorem”. Não se deixar ficar no lugar de coisa. Ter palavras, buscar canais de compartilhá-las e de fazê-las explodir clamando por mudanças, por atos que mudem o fluxo da História. Poder ser igualmente porta-voz e testemunho de vidas que, não sendo anônimas nem números, deixam marcas e traços que podemos ler e dar a ver.
Revolta, esperança e criação. Pontos que encontramos igualmente em O espírito da utopia, escrito durante a Primeira Guerra Mundial por Ernest Bloch, e do qual destaco suas palavras iniciais, que abrem a obra:
Eu sou, nós somos.
Não é preciso mais que isso. A nós de começar. É entre nossas mãos que está a vida. Já há muito tempo que ela se esvaziou de todo conteúdo. Absurda, ela titubeia por aqui, por ali, mas nós resistimos e, assim, nós queremos nos tornar seu punho e seus objetivos[15].
Por onde começar? Não me calo, não espero. Decifro?
Novamente pela leitura, desta vez do contundente artigo O nojo[16], de Eliane Brum, encontro Inumeráveis – Memorial dedicado a cada uma das vítimas do coronavírus no Brasil[17], obra de Edson Pavoni[18]. Este memorial não apenas dá nome a essas vítimas, ele também deixa gravado a idade que elas tinham quando suas vidas terminaram e, principalmente, contam por uma breve e amorosa descrição um pouco da história e da memória dessas pessoas. Como podemos ler na própria obra, Inumeráveis “é uma celebração de cada vida que existiu e que existe, e de como podemos entrelaça-las para construir memória, afeto, respeito e futuro[19]”.
Diante deste momento de crise (sanitária, certamente, mas sobretudo política, social e ideológica), é fundamental colocar em cena aberturas e construções que incluam “memória, afeto, respeito e futuro”, que coloquem em primeiro plano o entrelaçamento entre utopia e desejo. Imaginar o que ainda não existe a partir do desejo direciona um ato de transformação. A questão ética trazida pela psicanálise lacaniana, “Agiste em conformidade com o teu desejo que te habitas?[20]”, escutada coletivamente à luz da força de criação da utopia pode furar a realidade angustiante da crise e fazer com que os sujeitos possam reaparecer com voz.
Lacan colocou em evidência o sufocamento imposto ao sujeito pela angústia, posto que a angústia é quando “a falta falta[21]”. E a falta é o que permite a movimentação do desejo, a articulação borromeana entre imaginário, real e simbólico para fazer mover e desdobrar o impossível (sonhado, imaginado, desejado, pensado entre vários) em outros e novos possíveis. Isso nos exige um ato de poiesis, poesia, de criação na vida cotidiana e coletiva.
Criar poesia, musicar a vida[22], a partir do real, ética e utopicamente: não esquecer, não silenciar. Dar a todo nome e a toda vida seu lugar singular na História.
Notas e referências:
[1]Tradução da autora. No original: “Notre rôle, dans la vie, est de faire durer l’instant”.
MACCANN, Colum. Danseur. Traduction : Jean-Luc Piningre. Paris, Pocket, 2008, p. 188.
[2]SOUSA, Edson Luiz André de. Uma invenção da utopia. São Paulo: Lumme Editor, 2007, p.14.
[4]VELOSO, Caetano. Sampa. Muito (Dentro da Estrela Azulada). Formato: LP. Rio de Janeiro, CBD Phonogram, 1978.
[5]AREDNT, Hanna. Eichmann em Jerusalém – Um relato sobre a banalidade do mal. Tradução de José Siqueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
[6]Que, mesmo sem conhecermos os nomes (guardados e cuidados amorosamente por suas famílias), ecoam em nós.
[7]SILVA, Jonathan. Samba da utopia. Disponível em https://www.facebook.com/jonathancompositor/videos/samba-da-utopia-jonathan-silva/1031854670328250/Vídeo que conta com a participação da cantora Ceumar Coelho, gravado no Juá Estúdio, produzido por BRUTA FLOR FLIMES e lançado em 26 de outubro de 2018, às vésperas do 2oturno das eleições presidenciais no Brasil, em que concorriam Fernanda Haddad, pelo PT, e Jair Bolsonaro, pelo PSL. O resultado, catastrófico e bem conhecido dessas eleições, merece uma análise histórica profunda à luz das desigualdades e massacres, frutos de uma lógica que busca silenciar vozes e deixar vidas no esquecimento, existentes no Brasil desde o início da colonização portuguesa.
[8]E a descoberta de uma nova gravidez no fim de fevereiro deste ano, quando a dimensão da pandemia se mostrava já extremamente clara e inquietante, não foi algo que se deu, obviamente, sem diversos e intensos atravessamentos quanto ao que experimentamos todos neste momento atual. Uma gravidez, contrariamente ao que se possa imaginar quando se pensa apenas no aspecto de felicidade que ela pode trazer quando desejada, pode aflorar ainda mais o sentimento de coabitar politicamente o mundo com os demais sujeitos, assim como a reflexão sobre que mundo é esse que estamos construindo coletivamente, tornando mais forte um desejo de lutar para que ele se transforme, para que possamos reinventá-lo tanto pelas vidas já perdidas quanto pelas vidas que vão chegar. A utopia ganha, assim – ao menos o foi para mim –, ainda mais potência.
[9]Evocando aqui as contundentes palavras de João Bosco e Aldir Blanc – este último morto em 4 de maio deste ano, uma perda inenarrável para o Brasil, que partiu aos 73 anos, sendo mais uma vítima da gestão atroz do COVID-19 pelo governo Bolsonaro – na canção “O bêbado e equilibrista”, de 1979, eternizada pela voz de Elis Regina, que se tornou a voz pela luta pelo fim da ditadura militar no Brasil, pela Anistia e pela abertura política e democrática. A esperança, naquela época e agora, não é nem de longe ingênua, ela exige ato, luto, luta, mudança.
[10]Cujos textos podem ser lidos em: https://psicanalisedemocracia.com.br/?s=edson+de+sousa
[11]Textos disponíveis em: https://brasil.elpais.com/autor/eliane-brum/
[12]SOUSA, Edson Luiz André de. Palavras para um memorial. In: Psicanalistas pela Democracia. Postado em 7 de dezembro de 2019 e acessível em https://psicanalisedemocracia.com.br/2019/12/palavras-para-um-memorial-por-edson-luiz-andre-de-sousa/
[13]A prática clínica durante a pandemia, em especial com analisantes que atuam em diferentes profissões na área de saúde, dá espaço que se coloque em voz alta o inominável de uma experiência de resistência ética e política face aos horrores do vírus e, no Brasil (tendo em vista o abismo das diferenças entre o que escuto dos analisantes nestas condições que vivem na França e os que vivem no Brasil), do caos de uma gestão federal de saúde que segue na contramão não apenas da Organização Mundial de Saúde, mas de qualquer bom senso e respeito ao outro. Mais nitidamente do que nunca, a prática clínica é um espaço político.
[14]ANDRADE, Carlos Drummond de. “Nosso tempo”. In A rosa do povo. Rio de Janeiro, Record, 2001, p. 38-39.
[15]Tradução da autora. No original:Je suis, nous sommes. Il n’en faut pas davantage
BLOCH, Ernest. L’esprit de l’utopie. Traduit de l’allemand par Anne-Marie Lang et Catherine Piron-Audard. Paris, Éditions Gallimard, 1977, p. 9.
[16]BRUM, Eliane. O nojo. In: El país. Edição online de 13 de maio de 2020 disponível em https://brasil.elpais.com/opiniao/2020-05-13/o-nojo.html
Destaco aqui igualmente o início deste artigo, que dá voz a uma menina de pouco mais de dois anos que – em casa, então, há dois meses respeitando a quarentena necessária ao controle da pandemia do coronavírus – tem medo não do vírus, mas do “homem mau”: “O “homem mau” é Jair Bolsonaro. De todo o medo daqueles que estão ao seu redor, a menina entendeu que o vírus vai ficar do lado de fora, se permanecerem em casa. Mas o homem mau não tem limites. Ele abusa. Invade. Viola. Mata. Os pais criaram uma história, a de que as árvores cresceram e cobriram o prédio, e assim o homem mau não enxerga a casa deles e, como não enxerga, não pode lhes fazer mal. Ela olha com seus olhos imensos, quer acreditar, mas já compreendeu que nem mesmo as árvores podem protegê-la, até porque descobriu que o homem mau também derruba a floresta”.
[17]https://inumeraveis.com.br/
[18]Que conta com diversos colaboradores, todos igualmente incluídos com seus nomes no memorial, que é mais detalhadamente explicado no link https://inumeraveis.com.br/sobre/
[19]https://inumeraveis.com.br/sobre/
[20]Tradução da autora. No original, “Avez vous agi conformément au désir qui vous habite?”, traduzida na versão brasileira como “Agiste em conformidade com o teu desejo?”.
Edição francesa: Lacan J. (1959-1960) Le Séminaire, Livre VII, L’étique de la psychanalyse. Paris, Seuil, 1986, p. 362.
Edição brasileira: Lacan J. (1959-1960) O Seminário, Livro 7, A ética da psicanálise. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1988, p. 373.
[21]Lacan J. (1962-1963) O Seminário, Livro 10, A angústia. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 2005, p. 98.
[22]Mattos, Renata. A voz e a invocação para musicar a vida: ressonâncias entre música e psicanálise. Tese (Doutorado). Instituto de Psicologia. Programa de Pós-Graduação em Psicanálise. Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2010.