Vacina – Por Edson Luiz André de Sousa

 

“Lá onde está o perigo, cresce também o que salva”

Holderlin

 

Tem frases que nos acompanham pela vida como se fossem uma parte de nosso corpo, pulmão, olhos, coração, pernas, mãos. Esta é uma delas, o verso tão preciso do poeta Holderlin. Em muitas circunstâncias em minha vida me lembro deste verso como uma espécie de mapa que é preciso recorrer quando estamos perdidos em algum deserto.

Ainda não temos a VACINA contra o Corona, logo teremos, mas ainda temos as palavras.

Em um momento de isolamento forçado pela situação que estamos vivendo, onde fronteiras se fecham, onde tenho que me distanciar do meu vizinho, talvez tenhamos a chance de fazer contato como nunca pela PALAVRA. A última atividade pública que participei semana passada em Florianópolis, uma conferência de abertura das atividades do ano da Maiêutica Instituição Psicanalítica propus como titulo HABITAR A PALAVRA – O INCONSCIENTE UTÓPICO. Mais do que nunca precisamos disto.

Mas quando falo em palavra penso em algo poroso que pode absorver a palavra do outro, escutá-la rompendo, desta forma, estes monocromos psíquicos que nos contaminam. Quando alguém  diz  “se eu me contaminar, o problema é meu”. Ou ainda: “Se eu me contaminei, tá certo? Olha, isso é responsabilidade minha, ninguém tem nada a ver com isso”.  Aqui a contaminação parece ser em uma só via,  quem diz isto está preocupado só com  seu umbigo e despreza o mais óbvio , ou seja, de ser aquele que contamina.

Neste momento HABITAR A PALAVRA é o que temos que fazer.  Todos sabem que precisamos radicalizar as prevenções não saindo de casa. Talvez muitos dos que estejam lendo esta mensagem possam fazer isto, mas sabemos que muitos não poderão.

Então é hora de exercitarmos nossa SOLIDARIEDADE em tantos gestos possíveis: continuar pagando sua diarista que também não pode sair de casa e trabalhar, antecipar algum pagamento de algum serviço que usa habitualmente . Soube de uma pessoa aqui em Porto Alegre que ligou anonimamente para uma pequena livraria e se prontificou a pagar o aluguel do mês dizendo que frequentava este espaço e que queria ajuda-los. Ontem recebi uma mensagem que o Bar e Padaria Justo, ali nas escadarias da Borges de Medeiros, aqui em Porto Alegre, estarão doando diariamente a partir das 15h, 15 quilos de pães para pessoas que se encontram em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Estas são atitudes que mostram que o problema é de todos.

Seremos capazes de estar a altura deste desafio?

 

Crédito da imagem

A imagem é da Natalia Leite, moradora do Hospital Psiquiátrico São Pedro, onde reside desde 1959.  Ela também sabe habitar a palavra. Precisamos destas casas!!!