Um espaço amplo e sem divisórias, cujas paredes ressoam documentos e testemunhos antes censurados pela ditadura militar. Para Ana Pato, curadora da exposição Meta-arquivo: 1964-1985 – Espaço de Escuta e Leituras das histórias da Ditadura, tais características não foram configuradas por acaso.
“O que é visível, neste momento, para mim, é o potencial da transmissibilidade de todas estas vozes reunidas. O que se faz vivo neste processo é a percepção de que a justiça se constrói pela mediação”, afirma.
Ao cruzar as rebarbas de panos que cobram o interior de exposição, é possível transitar por notícias e fotos penduradas à altura dos olhos do visitante, como que insistissem em ser vistas depois de anos de negação.
À direita, o letreiro, em neon ao fundo insiste em perguntar: “O que você esqueceu de esquecer? O que você esqueceu de lembrar? O que você lembrou de esquecer? O que você lembrou de lembrar? Bem ao lado, uma foto ao lado apresenta ossadas e documento pessoais jazendo sobre uma mesa para documentação e identificação.
A exposição também guarda lugar para testemunhos, tanto os que vêm de dentro quanto aqueles oriundos de seus visitantes, que podem participar de uma roda de conversa sobre a ditadura militar e escrever mensagens sobre uma lousa em formato de mesa.
Podem ser escutados também depoimentos do “histórico do camburão”, símbolo do aprisionamento e da violência policial, utilizado desde a ditadura. Além deles, mais depoimentos também podem ser acompanhados por meio do Programa Regular da Coleta dos Testemunhos, localizado ao fundo da exposição. Ali, testemunhos como os de Ilda Martins, Sonia Hypolito e Amelinha Teles podem ser ouvidos, repetidamente.
Também pode ser encontrado um amplo acervo contendo relatos e histórias que, segundo Danilo Miranda, diretor regional do SESC, resistem à amnésia e, portanto, à perpetuação das injustiças que ela acarreta, num país desafortunadamente habituado a negligenciar seu passado.
A Exposição Meta-arquivo: 1964-1985 – Espaço de Escuta e Leituras das histórias da Ditadura está disponível no SESC Belenzinho, desde 22 de Agosto de 2019.
Visitação: até 24/11/19, terça a sábado, 10h-21h; domingo, 10h-19h30
Sesc Belenzinho: Rua Padre Adelino, 1000, São Paulo. Entrada gratuita.
Bruno Fedri é é psicanalista. Formado em Psicologia pela Universidade Metodista de São Paulo, especialista e mestre em Psicologia clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, com aperfeiçoamento em psicanálise pelo Sedes Sapientiae. É doutorando no núcleo de Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo e autor do livro “Dor de Mãe: Lutos da Violência Urbana”. Editora Zagodoni, 2017.