A estratégia de Bolsonaro e bolsonaristas está clara, óbvia e ululante. Os bolsonaristas e seu líder adoram dizer que vão matar, bater, torturar e machucar pessoas. Já estão fazendo isso por todo o país. Sabem bem exercer a covardia repleta de xingamentos e bravatas da força bruta, sobretudo quando estão em grupo e se deparam com jovens mulheres sozinhas expressando sua opinião, estudantes caminhando, pessoas sem pendor para violência com um botom ou uma camiseta de outro candidato qualquer.
Os bolsonaristas amam dizer que vão consertar o Brasil na porrada e distribuir armas para todo mundo. São mestres em ofender e xingar pessoas e provocar multidões criando um ambiente de medo e violência. Jogam carros em cima de transeuntes e prometem que vão estuprar mulheres sozinhas em locais públicos. Estão dispostos a assassinar quem tem opinião diferente e, além da perda de mestre Moa na Bahia, prometem mais. Prometem que vão varrer essa raça do país.
Mas o mais surpreendente é que o candidato líder dessa “valentia” toda se acovarda diante do debate, da conversa, do diálogo sobre o país que pretende governar. Para ele basta chamar o outro candidato de canalha, dizer que as urnas foram fraudadas, lavar as mãos diante das centenas de episódios de violências de bolsonaristas contra pessoas comuns e assim pretende ganhar as eleições, convencendo mais de 50 milhões de brasileiros, muitos dos quais serão vítimas dessas mesmas violências já propagadas.
Espalhando o pânico, a covardia e a desgraça moral e ética, o candidato espera enganar a tentar convencer o eleitor a ficar do lado de quem bate e não de quem apanha. E o eleitor incauto, atemorizado pode passar a sentir antes de pensar, concluindo que só existem essas duas opções de fato. Então, melhor ficar no lado de quem bate, certo?
Errado. Só há democracia quando ninguém bate e ninguém apanha; quando ninguém ameaça e ninguém é ameaçado; quando ninguém mata e ninguém é morto. Quando a burrice das dicotomias não é a única opção e também é possível escolher pensar, duvidar, hesitar e errar. A democracia é feita de erros em nome do seu próprio aprimoramento.
Só há democracia quando tudo se resolve pela palavra, pelo diálogo, pela conversa e pelas dúvidas que as travessam. Seus corolários políticos são o argumento, os debates, as leis. Seus corolários éticos são a experiência da amizade, da fraternidade e do convívio, e seus corolários subjetivos a linguagem, a alteridade e os processos que constituem sujeitos no laço social que lhes constitui.
Ao se negar ao debate, o candidato nega tudo aquilo que confere à democracia o seu sentido e ofende o eleitor negando-lhe a possibilidade de pensar, julgar e discriminar reduzindo todos à ignorantes e bestas feras. Só se convence o eleitor batendo, machucando, rasgando. O eleitor é um escravo iludido que tem pavor de gritos e vai seguir até a urna em secreta obediência hipnótica.
Então, o candidato foge do debate porque ali a gritaria não funciona, não convence, não persuade. O candidato acostumado a oferecer uma solução física para problemas complexos não poderá fazer o gesto da ‘arminha’ quando indagado sobre como pretende equacionar o problema da segurança pública nos estados e na federação. Também não poderá balbuciar ‘rá, tá, tá, tá’ quando perguntado sobre o meio ambiente e a proteção a espécies endêmicas e ao tráfico internacional de animais. E seria esperado que, ao ser indagado sobre como pretende buscar aliados no congresso nacional, respondesse que vai mandar matar todos os opositores homens e estuprar todas as opositoras mulheres.
Se questionado como pretende se relacionar com o Alto Comissariado das Nações Unidas pelos Direitos Humanos e com a Comissão e a Corte Interamericana de Direitos Humanos certamente diria, como já disse, que iria sair dos dois porque lá só tem um bando de esquerdistas.
Esses comportamentos sem nenhum pensamento são feitos na medida para a banalização das redes sociais e uma atenção que não dura mais do que 30 segundos. Tem efeitos potentes de aliciamento quando o dedo vasculha a tela dos celulares em busca de algo excitante, mas se desintegram num debate de 2 horas, se convertem em ridículo, esdrúxulo, vergonhoso.
Todos em volta do candidato sabem disso. Sabem que sua maior garantia é permanecer como ‘mito’ na redoma de uma relação sobrenatural impraticável na vida em sociedade e entre iguais dessemelhantes.
Explora seu corpo em primeiro plano: primeiro a facada e depois a recuperação infinita de seu frágil corpo enquanto seus discípulos colocam o corpo dos outros em flagelo: “não vota em nós então será castigado.”
Mas o eleitor comum começa a atentar e acreditar no que dizem e no que mostram os jornais quando assiste bolsonaristas dizendo para os negros em plena luz do dia:
“quando Bolsonaro ganhar vamos varrer vocês do Brasil, raça podre”
Ou para as mulheres:
“Deixa o Bolsonaro ganhar para ver o que vou fazer com você sua vagabunda”
Ou para pessoas que votaram em outro candidato:
“Seu FDP! Vai ver quando Bolsonaro ganhar”
Quando assiste atônito bolsonaristas distribuindo capim em plena avenida Paulista para negros e nordestinos, emitindo a mensagem performática: “Depois da vitória do 17 vocês voltaram para o curral animais.”. Eles seguem o gesto do próprio Bolsonaro amplamente veiculado nas redes. Querem atingir justamente para aqueles, os nordestinos, que em sua maioria se negaram a votar contra si mesmos, elegendo outro candidato.
Eles se consideram os detentores do tempo e prometem amargar mais no futuro.
Bolsonaro que se acovarda diante de um debate é o responsável pela maior onda de violência jamais vista em período pré-eleitoral e seus seguidores prometem que, depois da eleição, tudo vai piorar. Aí sim, estarão armados e prontos para atacar quem quer que seja. Até aqui foi só amostra grátis.
O Candidato que jamais se recupera, que está fraco, sem forças e chora porque teve de reverter uma vasectomia, autoriza seus gorilas à machucar pessoas, depois lava as mãos e sai correndo dos debates. Se apavora diante do diálogo, saca atestados médicos para não ir discutir o país e, enquanto isso, autoriza seus correligionários a incutir medo e dor nas pessoas. Com isso ensina a covardia, incentiva o cinismo e planta a erva daninha da dor e da morte para, se eleito for, regá-las após as eleições.
Os jornais brasileiros com maior número de leitores, que batem no peito proclamando sua imparcialidade, mantém a inacreditável desfaçatez de tratar Bolsonaro como um candidato. É humilhante ter uma imprensa tão pusilânime e tão colaborativa com regimes ditatoriais desde, ao menos, 1964. O Brasil merecia algo muito melhor. Mas não temos, nunca tivemos.
Os empresários dos grandes jornais e revistas aceitam que alguém que é incapaz de defender ideias e propostas para o país, e que só tem uma solução para resolver os graves conflitos nacionais (atear fogo em seus adversários) pose como candidato à presidência nas primeiras páginas. Assim legitimam o absurdo todos os dias e o colocarão na presidência do maior país da América Latina.
Mas a verdade é que é sempre bom lembrar que jornais e revistas ainda são publicados em papel e que os verdadeiros bombeiros, na verdade, sempre fomos e sempre seremos nós, hoje, amanhã e depois de amanhã.