“NÃO RENUNCIAMOS A SALVAR O NAVIO NA TEMPESTADE SÓ PORQUE NÃO SABERÍAMOS IMPEDIR O VENTO DE SOPRAR”.
Esta frase foi escrita por Tomas Morus, em 1516 em seu livro “A Utopia”. Estas me parecem ser as palavras mais justas diante da possibilidade de um naufrágio. Não podemos esquecer que todos estamos no mesmo barco e que naufragaremos juntos. O que pode naufragar todos já sabem, perderemos um pouco de nossa alegria e liberdade para a invenção. Não preciso dizer em que parte deste barco está a criação, os artistas , os poetas, os músicos, os dançarinos, os cineastas, os dramaturgos, basta ver as propostas para a cultura que estão em pauta nesta eleição. Mas os artistas não vão abandonar o barco mesmo no fundo do oceano. Eles continuarão vivos pois sempre cumpriram o papel de testemunhar as grandes catástrofes humanas, buscando dar forma a dor que não tem nome. De lá continuarão a fazer suas músicas, escrever seus poemas, seus romances, suas peças de teatro, seus desenhos e pinturas, suas coreografias, seus filmes para contar a história desta deriva . Não queremos que a música se restrinja aos hinos de guerra e as palavras de ordem. A arte não precisa de métrica, nem ordem unida. Ela é rebelde e irreverente por natureza. Lembro sempre do que escreve Elias Canetti em seu ensaio O oficio do poeta: “ Quem não vê o estado do mundo em que vivemos dificilmente terá algo a dizer sobre ele”. Então, é preciso minimante ver o que se passa no espírito do seu tempo para criar. Políticos podem mentir e mentem e me refiro a todos os lados da política, mas o artista com sua arte não tem como fugir a verdade. Ainda bem!
Nesta imagem vemos o trabalho do artista brasileiro Vik Muniz realizado para a Bienal de Veneza de 2015. Se chama Lampedusa , ilha italiana onde morreram afogados 360 refugiados que buscavam uma vida melhor atravessando o mediterrâneo. Podemos ler no “barquinho de papel” o jornal que notícia este naufrágio. Quais serão as manchetes que leremos em breve? Esperamos que o vento volte a soprar com suavidade e que não precisemos ler as manchetes de nosso próprio naufrágio.