Guaíba 3M (nível de inundação)
André Oliveira Costa
Psicanalista. Porto Alegre. Enchente. Maio de 2024.
Nesta enchente que inundou parte de nosso estado este ano, atuei em um abrigo que foi organizado em uma escola aqui em Porto Alegre. Junto a tantos outros voluntários e voluntárias: médicas, enfermeiras, assistentes sociais, estudantes de graduação e mesmo alunos do ensino médio, além de toda a participação de voluntários nos resgates às famílias atingidas, nas doações de roupas, alimentos, medicações, todos pareciam estar lá solidarizados com a situação catastrófica que a cada dia tomava proporções incontroláveis.
De minha parte, sentia que estava lá atuando como psicanalista, em uma escuta clínica pautada pela ética da psicanálise, ainda que isso implicasse me opor a certos colegas psicanalistas, que acreditam que um psicanalista não pode se antecipar, não pode interferir no primeiro tempo, no tempo do acontecimento, mas deve aparecer no tempo do só-depois, do après-coup, para ser o suporte do tempo da elaboração.
Sentia que aquele era o tempo da urgência, o que implica uma decisão entre o resgate do sujeito ou o seu apagamento. A urgência é aquela condição na qual, por algum motivo um sujeito está ameaçado de ter sua condição psíquica pronta para sucumbir por alguma forma de ruptura de seus laços sociais mais constitutivos. Desorganiza suas referências simbólicas, corrompe seu modo de compreender o mundo, destroi as possibilidades de manter seus laços afetivos e sociais. Atuar como psicanalista, neste tempo da urgência, era poder reagir um pouco diante de um desastre iminente. Esperar pelo só-depois do traumático seria um deixar adoecer para depois tratar.
Qual o ponto de contato que liga um sujeito ao laço social? Afetos? História? Poessoas? Objetos? Lembranças? O que impede um sujeito de desabar quando suas bases mais fundamentais são destruídas de forma violenta? COmo preservar e restabelcer essa ligação entre sujeito e laço social para que nem um nem outro, no final das contas, terminem desmoronando?
3,77M
Oi, tudo bem? E essa bebezinha no teu colo? Você sabe quantos anos ela tem? 3 meses. E qual o nome dela? Alice. E tu sabe qual a história dela? Chegou aqui com a irmã, de 15 anos. Fazia mais de dois dias que ela não via a mãe, que estava no hospital cuidando do outro irmão. Ela estava bem, com todo mundo. Mas agora a mãe chegou e ela não consegue parar de chorar. E teu nome, qual é? Alice também. E tu tá aqui como voluntária desde quando? Desde domingo. Então passou a madrugada aqui? Sim. Não dormiu ainda? Ainda não. Faz quanto tempo que tu não dorme? Hum. Deixa eu ver. Acho que mais de 26 horas. E tu és formada em alguma coisa? Não, não. Eu ainda tenho 16 anos. Tô no terceirão e vim aqui ajudar. Vai dormir, Alice. Nós também precisamos descansar.
4,33M
Eu tinha uma estofaria há mais de 20 anos. Fotos das poltronas, cadeiras, sofás reformados. As cadeiras da rodoviária de Porto Alegre fui eu que reformei. Tudo em baixo d’água. Toda maquinaria. Não dá pra recuperar. Tava quase me aposentando. Perdi tudo. A água chegou no teto. Tiveram que me resgatar de barco e me trouxeram para cá. Pior que sou pesado. Olha o meu tamanho! Mas estou bem, dentro do que se pode estar bem.
4,78M
Dona Maria de Fátima veio com a família. Dois filhos já grandes. O marido, com 82 anos. Já tava mal, ele. Saia sozinho na rua e se perdia. Tínhamos que ir buscar ele lá perto do supermercado. Agora aqui diz que tá vendo a mãe, que tá falando com ela. Ontem caiu da cama. Dois colchões empilhados um em cima do outro. Tentou se levantar, não encontrou a bengala, caiu e bateu com a cabeça. Chamaram a SAMU. Ele não está bem. Levaram ele pro posto de saúde pra examinar. Um filho foi junto. Passou a noite e voltou hoje de manhã. Agora tá dormindo, reclamando de dor. Perdemos tudo. A geladeira estava boiando. Colchão também. Todas as roupas. Eu gostava de costurar. Sempre fui muito caprichosa. Meus panos de prato, foram todos eu que fiz. Tá tudo de baixo d’água.
4,94M
E a água, ainda tá subindo? Olha, seu Carlos, tá subindo. Tu viu a rodoviária, como está? Alagada. Entrou água dentro. E a igreja ali perto? Também deve ter entrado. Eu frequentava aquela igreja. E aquela loja, perto da rodoviária? Também alagada. E o parque? A Redenção? Acho que a água não chegou até ali. Fica longe do rio, né? Talvez ali pra Cidade Baixa ou então pro Menino Deus. Mas a previsão é que vai chover muito novamente e que pode aumentar o nível do rio. Então, não sei como as coisas vão ficar. Pois é. Será que vai alagar ali na Farrapos? Acho que sim. E a rodoviária, tu viu como está? Toda alagada. Entrou água dentro. E a igreja também, né? Sim, também. Eu frequentava aquela igreja.
5,14M
Esse daqui é meu oitavo namorado. É mesmo, Dona Ivete? Puxa, que honra então pra mim. Pois é. Cheguei aqui e até o diretor da escola queria me namorar. E como a senhora foi resgatada? Na garupa de um homem. Me puxou para cima dos ombros e me carregou pelas águas até um barco. Eu disse pra ele que era pesada. Mas ele disse que não, que era levinha. Tava toda molhada. Quantos anos você tem? 82 anos. E tá sozinha? Tô sim. Minha família está toda pro interior. Não tem como chegar aqui. E aqui tá bom. Tem comida e meus namorados todos estão aqui. Vem aqui, preciso que ajude a colocar essa senhora na cadeira de rodas. Ela chegou ontem de noite. Precisa trocar a fralda. Está toda mijada. Claro, vamos lá. Já tomou café da manhã, Dona Antônia? Já tomei sim, obrigado. Tava muito bom. Que bom.
5,25M
E o Seu Helder, filho da Dona Maria de Fátima, onde está? Tu nem vai acreditar. Foi levado pela SAMU. Tivemos que chamar a brigada. Sabe que ele dormia com os cachorrinhos, né? Sei, claro. Lá embaixo, na garagem. Um cachorrinho fugiu e ele surtou. Chegou aqui em cima furioso. Falando que aquele não era o pai dele. Que ele estava fingindo, enganando todo mundo. Que tava querendo se vingar dele, mentindo que tava vendo a mãe. Achei que fosse tirar uma arma da cintura. Cheguei a quase pular em cima pra impedir. Não tinha ninguém na volta. Todo mundo assustado olhando. Era o celular. Queria mostrar uma foto de como era o pai dele antes disso tudo. Levaram ele pra medicar e trouxeram ele hoje de manhã. Tá mais tranquilo.
Para trazer como um testemunho da enchente que inundou parte de nosso estado, é preciso remeter ao período da pandemia. Não por acaso, as pessoas ainda dizem ter a impressão de haver uma continuidade entre enchente e pandemia, chegando a se confundirem um termo com o outro. Ao invés de falarem “enchente”, trocavam pela palavra “pandemia”. Mas, diferentemente de muitos países, no Brasil, a pandemia sofreu as decisões políticas de um governo negacionista, que recusou reconhecer o potencial mortífero do vírus, desacreditou na importância da ciência e da vacinação. Uma política de negação da própria realidade que produz, como consequência, a ruptura dos laços sociais.
Nosso país nunca soube conservar as feridas das destruições que sofreu e produziu ao longo de sua história. Apagou suas próprias marcas cuja função seria a de não apenas recordar mas também de questionar as próximas gerações. O apagamento de nossa memória impede aprendermos com nossa experiência. Somos o Anjo da História, que Walter Benjamin lê no quadro de Paul Klee. Mas não olhamos para as ruínas do passado, não buscamos aprender com nossos mortos uma forma de salvamento.
5,33M (Alerta de chuvas intensas)
Tu é psicólogo? Pode ir lá conversar com um rapaz que tá chorando? Oi, como está? O que houve? Perdi tudo. Meu carro. Era um chevette. Tinha reformado ele todo. Tava na oficina já pronto. Gastei mais de 5.000 pra reformar. Era de coleção. Ia até colocar placa preta nele. (Me mostra as fotos). Tinha uma loja de lavar carros. Tudo embaixo d’água. Todas as ferramentas. Consegui tirar meus dois cachorros. Minha namorada morava comigo. Mas ela ficou com a família no apartamento deles. Saquearam um supermercado e conseguiram comida e água. Mas não tem luz. Vão ficar por lá pra proteger a casa. Meu pai, não sei. Ficou na casa. Tô tentando falar com ele. Mas ele tá bem. Tô vendo com um amigo que vai conseguir um barco pra resgatar ele. Tenho ansiedade e minha mãe depressão. Ela toma remédio. Eu tive que ser internado no dia do meu aniversário. Mas não vou te falar sobre isso. Não tá fácil. Perdemos tudo. Toda a oficina tá embaixo d’água. Saímos de barco. O louco é faz umas duas semanas que sonhei que eu tava embaixo d’água, batendo os braços, tentando respirar. Louco isso, né, de um sonho prever essas coisas?
5,37M
Oi, como você estão? E essa pequena, como ela se chama? Maria Alice. E qual a idade dela? 1 ano e 4 meses. E como ela está? Está bem, mas não consegue desgrudar de mim. Ah, é? Sim. Chega um estranho e ela logo me puxa. Viu? Foi tu chegar. Não era assim? Não. Ela tava começando a caminhar até. Mas agora não quer saber. Só fica engatinhando e quando alguém estranho se aproxima, ela chora por mim. Foi por causa do resgate. Nos tiraram de bote. Aí ela tava toda molhada. As roupas toda molhada. Na hora tiraram a roupa dela pra colocar roupas secas e ela estranhou. Desde então ela tá assim. Meu cunhado está dormindo ali, na cama do lado. Ele é voluntário em um outro abrigo, na igreja que nós frequentamos. Ele passa a noite lá e dorme de dia. Eu tô indo lá hoje de tarde. Vou ajudar como voluntária também.
5,10M
Olha, tivemos dificuldade com uma menina, a Verônica. Ela tava batendo nas outras crianças, não parava de gritar. Muito agitada. Tivemos até que chamar um médico. Ele medicou e agora ela está bem. Ah, é? Sim. E sua neta, como ela está? Agora está bem. Mas ficou muito agitada. Coitada. Saiu correndo com minha filha e o esposo de casa. A água veio muito rápido e não deu pra pegar nada. Entraram no carro e foram pra cima da ponte. Ficaram 6 dias lá em cima. Dormindo dentro do carro. Foi difícil. Mas agora está tudo bem, dentro do que se pode estar. Ela chegou aqui tava até com queimadura de sol no rosto porque esses dias fez um sol, né? Mas agora com essa nova chuva, vai aumentar o rio, né? Dizem que vai.
4,97M
Parece que houve roubo. O pessoal saiu e voltou com roupas novas, de marca até. Sabe aquele assalto que estão falando, no estádio de futebol? Então. Também parece que estão saindo do abrigo, levando as doações pra vender. Temos que fechar, não acha? Fechar o abrigo? É, pra eles não saírem mais. Voltam com drogas e vendem aqui. Mas aqui não é prisão. Nem hospital psiquiátrico. Teve uma mulher que acordou e tinha um homem com a mão na calcinha dela. Tiraram ele daqui e colocaram em outro abrigo. Teve um marido que bateu na mulher. Uma relação abusiva, claro. Ela não reclamou. Não quis dar queixa. Transferimos ele para outro abrigo. E aquela lá, que está dormindo em um quarto sozinha? Então, parece que ela já teve umas ideias de que tem uns bichos percorrendo o corpo dela. Não agora, mas antes. Deve ser uma psicose. Parece que até teve já tentativa de suicídio. Vamos colocar a Dona Regina junto com ela.
4,70M
Tô com toda minha família aqui. Somos em 10 pessoas. Meu cunhado, a mulher e a filha dele. Minha mãe. Todo mundo aqui. E a filha de vocês, como se chama? Maria Clara. Ela tá bem. Eu não. Já faz umas três noites que acordo no meio da noite com um pesadelo, me debatendo todo. Sonho que estou em uma canoa e a canoa está virando e eu caio dentro d’água. Foi como aconteceu. Eu e meu cunhado estávamos em uma canoa e ela virou. Tive que ir nadando até uma grade e me segurar. Conseguimos virar a canoa e entrar de volta pra dentro dela. A correnteza estava muito forte.
Nossa história não contabiliza nossas catástrofes. E por isso não é capaz de antecipar seus desastres anunciados. Não guarda na memória as histórias da inundação que destruiu parte dos estados da Bahia e de Minas Gerais, entre dezembro de 2021 e fevereiro de 2022. Não guarda na memória o rompimento das barragens de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais, que deixou um rastro de terra arrasada, causando a morte de 272 pessoas, destruindo o meio ambiente e as condições para a existência da vida no local.
Na história recente de nosso estado, ainda temos guardadas em nossa memória as imagens da enchente de 1941, sobretudo aquelas fotografias da inundação do Mercado Público e de seus arredores. Um trauma que não foi compreendido como tal. Não soubemos compreender o acontecimento como traumático nem elaborar o modo como as pessoas conseguiram sobreviver a ele. Deste acontecimento, restou na memória de nossa linguagem a figura do “abobado da enchente”. Primeiro, ela servia para descrever a condição de certas pessoas que sofrem algum tipo de confusão mental que as deixam alheias à realidade, que negam a verdade que seus próprios olhos estão enxergando. Mas acabou sendo transformada em diagnóstico de transtorno mental para descrever, mesmo depois de ter passado tanto tempo. Temos nessa expressão um personagem trágico porto-alegrense. Um sujeito que está à margem do mundo, indiferente à vida, desesperançoso das relações. Pessoas que ficaram desnorteadas, desorientadas por não conseguir acreditar naquilo que estava acontecendo com elas. Se tornaram andarilhas, perdidas, abatidas, tristes. Pessoas que perderam suas principais referências, inclusive a esperança na solidariedade humana. O que resta para nós desta tragédia é a figura de um indivíduo sem bando, abandonado pelos outros.
Vírus, fogo e água. Mortes foram causadas pela impossibilidade de respirar.
A casa está queimando, diz Agamben. De algumas, restam apenas pedaços de muros, uma parede pintada, uma parte do teto. Nomes foram devorados pelo fogo ou apagados pela água. “E, todavia, os recobrimos tão zelosamente com gesso branco e palavras mentirosas que parecem intactas”. Vivemos em uma casa inundada como se ainda estivesse de pé. As pessoas fingem viver mascaradas em ruínas, como se a cidade ainda estivesse lá. “A cegueira é tão mais desesperada porque os náufragos pretendem governar o próprio naufrágio”. Mas quem se dá conta que a casa queima ou está inundando pode ser levado em solidariedade a olhar seus semelhantes. Porque o colapso nos diz respeito e nos chama, somos também parte do escombro. É com nossos semelhantes que vamos trocar o último olhar quando quisermos manter o último respiro de humanidade em nossos laços sociais.
Muitas são as imagens que marcaram a enchente que assolou nosso estado em maio deste ano. Imagens da inundação de casas, lojas, restaurantes, escolas, postos de saúde. O rio apagou do mapa ruas, estradas, praças, bairros e cidades inteiras. Eliminou os limites, as margens, as fronteiras. Desta experiência, da qual seguem as imagens que permaneceram em meus registros testemunhos, permanece a força dos voluntários e voluntárias em um movimento de solidariedade que se impõe como uma forma de resistência diante da catástrofe iminente, do apagamento dos sujeitos, de suas identidades e de suas histórias, da destruição dos laços sociais. Uma forma de perfurar a negação que se impõe contra a realidade, nos ajudando a ver os destroços do mundo em que vivemos.
4,53M
Acho que o nível do rio já está seguro para irmos ver. Já baixou quase 1M do nível máximo. Sim, mas antes vamos na feira. Sobrevivemos a pandemia indo lá 2 vezes por semana. As famílias dos feirantes estão precisando de ajuda. E nós também. Alice, nossa filha, se prepara. De boneca Polly na mão, vestida de colete salva-vidas, e sua lancha, caso seja preciso em uma emergência.
Enchemos as sacolas. Fazia tempo que não íamos à feira. Cenoura, batata, tomate, banana, bergamota, goiaba, ovo e pão. Tudo bem, Seu Duarte? Como vocês estão? Estamos bem, dentro do possível. Acho que essa é a única resposta de quem não foi tão afetado. Mas vocês não moram aqui perto? Sim, moramos. No Menino Deus. Estava em casa, no segundo andar, escrevendo. Escuto um apito diferente. Olho pela janela e são os bombeiros. Desce vovô. Desce logo! Demorou porque tinham que cortar os fios de luz, senão dava choque. Não deu pra salvar quase nada. A água já tinha entrado. Chegou a 1,8M. Inundou tudo. Perdemos quase tudo. Puxa, que ruim isso. Não, tudo bem. A vida é assim. Escuta os helicópteros. Eles estão pousando aqui perto. As crianças adoram ir ver os helicópteros. Fica bem, Seu Duarte!
Vamos até o centro, então. Ali no Teatro São Pedro, que é alto, a água não chegou. Podemos estacionar ali e ir caminhando. Descemos a Rua da Ladeira. Lembro que vinha aqui nos sebos, comprar livros usados. Aqui no Sindicato dos Bancários deve ter um alojamento. Está cheio de gente. Descemos um pouco. A água já na Rua da Praia. Nossa! De ontem pra hoje já recuou tudo isso! Ontem tinha gente com água na cintura. Agora dá pra caminhar. Seguimos a pé, entrando na praça da alfândega. Cuidado pra não escorregar. Muita lama, muito lixo. Essa lama não é boa. Parece ser toxica. Aqui tinha uma pracinha, Alice. Se lembra de ter brincado aqui naquela feira do livro? Sim, viemos em muitas feiras do livro aqui. Ali, no Santander, tu veio com a tua escola. Nossa, olha o tamanho daquela árvore que caiu! E o Margs e o Memorial, ainda com água. Uma desolação. E essa lixeira, em cima dos bancos da praça? Deve ter ficado boiando pra chegar onde está. Olha a marca da água na parede. Mais de 1M de altura.
Na Caldas Júnior, fizeram um dique. Lá vem um barco. É o nosso barco. Deve estar trazendo o lixo do prédio onde vivemos, ali na Siqueira Campos. Moramos ali, mas estamos em um hotel. Mas todos os dias vamos ajudar os vizinhos. Tem gente doente, acamada, que recém fez cirurgia e não pode ser resgatada. Estão há 2 semanas sem água nem luz. Os vizinhos estão com as chaves dos apartamentos. Tiramos as comidas das geladeiras. Levamos água e comida pra quem precisa. Remédios. Temos vizinhos que são médicos e dão receitas. Aí compramos os remédios e levamos de barco. Todos os dias. Mas agora vamos lá. Comprei essa mochila. Dizia que era impermeável, mas não é.