Psicanalistas pela Democracia (2016-2023)

 

Prezadas/os amigas/os do Psicanalistas pela Democracia,

Como muitas/os de vocês sabem, o PPD iniciou com o Ato pelo Apoio Incondicional à Democracia Brasileira no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, no dia 07 de abril de 2016. Esse encontro foi marcado pela diversidade de psicanalistas advindos de diferentes filiações em todo o Brasil.

A ocasião se inscreveu na história da psicanálise brasileira como o único ATO conhecido desde que a psicanálise se instalou no país, reunindo centenas de psicanalistas com o propósito de defender e apoiar a democracia brasileira, na ocasião sob risco iminente de um golpe jurídico-midiático-parlamentar, que ocorreria no dia 31 de agosto de 2016.

Como decorrência desse ATO foi criada a plataforma digital Psicanalistas pela Democracia (PPD) para que aquela manifestação exitosa tivesse continuidade como palavra aberta às/aos psicanalistas que desejassem fazê-lo. Foram muitas/os.

Um ano e oito meses depois, o golpe teria sua consolidação com a eleição de Jair Bolsonaro. O PPD já existia então. Nos mantivemos trabalhando de forma voluntária e contínua durante os últimos sete anos, escrevendo e publicando artigos diversos, realizando entrevistas, criando e executando projetos especiais em vídeo e documentando manifestações pelo país.

Vimos os debate sobre política, direitos humanos, ataques à democracia pensados por psicanalistas e/ou amigas/os da psicanálise prosperarem em nossas redes e testemunhamos momentos de enorme sinergia entre psicanalistas, para levantar a escuta e a voz para interpretar os acontecimentos terroríficos que assolaram o país e ainda estenderá seus tentáculos para o futuro.

Como grupo de organizadoras/es, mantivemos a mais rígida atenção à diversidade de textos e iniciativas publicadas, independentemente das filiações e/ou preferências das próprias organizadoras/es e atuamos sempre como coletivo de psicanalistas, evitando com isso nos institucionalizarmos e constituirmos hierarquias desfavoráveis à uma organização como PPD.

Com isso, tivemos perdas e dificuldades também. A ausência total de recursos financeiros, a carência de tempo para escrever, publicar, postar, filmar, editar, etc foram gradativamente se fazendo sentir entre as/os organizadoras/es. Além disso, as atividades nas redes se complexificaram e se sofisticaram enormemente, tanto a nível de eficácia quanto de segurança e, para continuar alcançando relevância no universo digital, o PPD teria de optar por se profissionalizar em parte ou totalmente.

Porém, isso significaria descaracterizar o papel, o desejo e o protagonismo do PPD tal como pensávamos desde o início. Significaria também mobilizar recursos e pessoas que não estariam mais conosco apenas pelo desejo de democracia e pelo exame que a psicanálise produz sobre esse desejo ou a falta dele e, por fim, significaria a descaracterização do PPD como coletivo.

Avaliamos com cuidado e consideramos que as/os atuais organizadoras/es veem como um ciclo terminado de sete anos que teve início com um golpe de Estado e termina com a esperança na construção da democracia que ainda não conhecemos, passados quase 40 anos do fim da ditadura civil-militar brasileira iniciada em 1964.

O formato coletivo do PPD nos permite e nos permitiu flutuar movidos pela única e fundamental implicação do desejo que atravessou todo o projeto que ora termina.

Temos a certeza de que o PPD contribuiu decisivamente para que, no Brasil, houvesse espaço para psicanalistas e uma psicanálise desobediente, crítica e rigorosa com os princípios da clínica e da metapsicologia tão caras a todas/os nós. Como coletivo de psicanalistas e em seu formato digital, o PPD chegou a muitos lugares do país. Isso, de algum modo, indica uma parte do sucesso do que empreendemos, mas a outra, e talvez a mais importante, tenha sido a insistência do PPD de que sem democracia a psicanálise será aviltada, ameaçada e impossibilitada enquanto ofício de fala e escuta livre e, portanto, não sobrará nada além de uma pseudo-psicanálise negociada tal como aconteceu e acontece em todos os países assolados por ditaduras e regimes autoritários.

Ficamos felizes de termos sido um dos instrumentos potentes nesses momentos de crise e gravidade da institucionalidade democrática brasileira. As/Os organizadoras/es foram peças decisivas na insistência da inscrição dessa iniciativa entre nós, psicanalistas brasileiras/os.

Estarão disponíveis, no site, no facebook e no instagram parte dessa história que o PPD contribui para construir e na qual vocês se inserem de modo importante, pois foram e serão sempre amigas e amigos mui queridas/os da psicanálise, que estará sempre comprometida contra atentados futuros à democracia no Brasil.

A vocês que constituíram, apoiaram, torceram pelo PPD nesse longo período de desalento e esperança, nosso abraço amigo e o desejo de que nos encontremos

sempre, a fim de continuarmos juntas/os, construindo os andaimes frágeis da palavra livre, sempre ameaçada em qualquer tempo e lugar e jamais segura, porém capaz de multiplicar-se no colo dos que insistiram e imaginaram um futuro que ainda faria enraizar nossa semeadura. A esperança enfim materializou-se e continua sendo ela que ainda nos cativa.

Nosso agradecimento especial às PPDs Adriana Marino, Lisiane Leffa e Denise Mamede, que fizeram parte desta história.

Com nosso abraço fraterno, Psicanalistas (sempre) pela Democracia

Paulo Cesar Endo

André Oliveira Costa

Maico Fernando Costa

Deborah Klajnman

Bruno Cervilieri Fedri

Edson Luiz André de Sousa