Traços fortes e marcantes com vermelho vivo sombreado de cinza roseado. Formatos arredondados que denotam o corpo da mulher em meio a representações difusas, ora em uma catedral, ora em um quintal rodeado de corpos anônimos e amontoados.
Segundo Márcia Falcão, autora das obras, sua arte se trata de questões que a incomodam:
Como era minha primeira exposição individual da vida, eu queria trazer o método que vinha norteando meu processo desde sempre: me deixar tocar por questões que me incomodam e responder a isso com pintura. Estava explorando questões acerca do corpo feminino e a relação deste com o espaço onde ele está inserido, dialogando com o corpo e arquitetura para trazer novos sentidos ao discurso. Gosto de pensar que o método tem na colagem o catalizador para desdobrar conclusões que a princípio estariam desconectadas sempre buscando uma relação horizontal entre os símbolos.
A exposição da artista, que nasceu em Realengo, no Rio de Janeiro, se encontra agora em São Paulo e é considerada o desdobramento da primeira, realizada na Galeria Carpintaria, no Rio de Janeiro, em Novembro de 2021.
Os quadros surpreendem pela justaposição entre o sagrado e o impuro, com diferentes representações do corpo feminino, uma crítica à exploração e padronização de sua imagem.
Para o Psicanalistas pela Democracia, Márcia descreveu:
Caquinhos de pisos vermelhos e arcobotantes de catedrais justapostos constroem algo novo. um híbrido semântico que tem no corpo feminino gordo e não branco seu alicerce para tensionar críticas e quem sabe janelas para novos pontos de vista. Os títulos também têm função ativa na construção do pensamento direcionando muitas vezes o sentido da obra para campos que a princípio seriam à primeira vista até mesmo opostos.
Por fim, percebo que meu trabalho tem sempre o desejo de suscitar no observador um olhar outro, sob um ponto de vista de pessoas como eu que têm sido silenciadas e descreditadas há séculos.
A exposição é gratuita, na galeria Fortes D´Aloia e Gabriel, em São Paulo, e está disponível até amanhã, dia 23 de abril. De segundas às sextas, das 10h às 19h. Aos sábados, das 10h às 18h.