Prezadas, prezados e caríssimos leitores do PPD
Hoje um dos organizadores de nossa plataforma perguntou sobre o futuro do PPD. Outras conversas virão. Isso me chamou a atenção pelas mudanças profundas que poderão suceder e o quanto devemos nos preparar para elas.
Como muitos brasileiros tenho falado com pessoas, dado entrevistas, ido a manifestações, proferido conferências, aulas, participado de reuniões, gravado programas de rádio e vídeos, escrito artigos a fim de influenciar, informar tentar evitar o pior e posso dizer que a única coisa que me parece poder alterar votos, a única coisa que nos faz sair de nossa bolha, de nosso cubo branco é a panfletagem e a conversa com diversas pessoas nas ruas. Indo e vindo. Pessoas que não frequentam os mesmo lugares que nós, que não pensam como nós, que não acreditam nas mesmas coisas que nós.
Senti nos últimos dias que quando nos aproximamos gentilmente das pessoas, mesmo num contexto de tanta hostilidade e perigo, elas querem nos escutar, elas querem nos ouvir e querem também falar. Das dezenas de pessoas que abordei apenas uma estava completamente fechada ao diálogo e à troca de impressões. Todas as outras estavam dispostas a ouvir, e mais da metade tinha seu voto mais ou menos indefinido.
Muitas dessas pessoas eram trabalhadoras e trabalhadores. Totalmente assoberbadas por uma rotina intensa e exaustiva de trabalho e pouco afeitas às discussões políticas, mas que gentilmente concediam um pouco do seu tempo para ouvir. A maioria dessas pessoas já sabem quem é o #ele nem a pau, embora ainda oscilem entre tudo o que disseram do PT e o candidato monstro.
Para mim o mais importante na última pesquisa do Ibope publicada ontem é que senti exatamente o que foi constatado: a rejeição ao Haddad está menos intensa e a rejeição ao #nunca aumentou consideravelmente. Pude sentir isso entre uma panfletagem e outra. Podemos conquistar essa eleição ainda. São sete pontos para conquistar, mas são milhões de eleitores, então precisaríamos ser milhões nas ruas para esses 4 dias que faltam. Se não conseguirmos colocar milhões de nós nas ruas do Brasil tentando convencer, sobretudo aqueles que serão atingidos pelo candidato #ele jamais, então seremos derrotados.
São quatro dias para convencer milhões de eleitores, mas também para afirmar nossas posições, princípios e sonhos no espaço público. Não sabemos se após as eleições ainda poderemos fazê-lo com a liberdade que conhecemos e estamos a defender.
Considerem restituir ao corpo o espírito do ato fundador da política: o diálogo, a persuasão, a possibilidade de dizer e escutar no espaço público. Vamos exercer nos poucos dias que restam o melhor de nossas esperanças e gentilezas. Vamos pedir àqueles e àquelas próximas de nós, que acreditam em nós, em nosso trabalho, em nossas ideias que não desistam agora. Vamos formar grupos e ocupar as ruas conversando com todas e todas. Devemos e podemos nos proteger deixando, por exemplo, sempre alguém atento a movimentações, fazendo o papel de segurança, enquanto outros conversam, abordam e panfletam.
Hoje é proibitivo qualquer hesitação porque todos sabemos à exaustão o preço que teremos de pagar por ela. Vamos lutar pela nossa liberdade exercendo-a.
São milhões de votos que só serão alcançados com milhões nas ruas ajudando os indecisos e desinformados a sustentar a pouca democracia que temos.
Muitos tem medo de ir às ruas, esse medo não é despropositado e todos os cuidados são sempre bem vindos, mas há nesse medo também a fantasia de antecipação de um medo pior e real que poderá advir. Esse sim impedirá a ocupação do espaço público; esse sim perseguirá os que divergem; esse sim proclamará “se não está por mim, então está contra mim.” Esse horror não estará em nós, mas fora de nós e, queiramos ou não, teremos de enfrentá-lo.
Penso que ainda não é a hora do abraço dos afogados e todo esforço deve ser feito para que essa hora jamais chegue; ganhando ou perdendo. É a hora de emular a esperança que talvez não tenhamos e inalar o ar puro antes de nosso mais importante mergulho.
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.
E, sim, estamos juntos.
Saudações e esperanças
Imagem: Minoru Onoda, 1964. Gutai Group.