“Censura e violência: QueerMuseu”, Por André Costa

“Censura e violência: QueerMuseu”, Por André Costa

 O Brasil é o país que mais mata pessoas LGBT. Três vezes mais do que o segundo colocado, o México. Mais do que os países do Oriente Médio, onde a homosexualidade é crime e, em alguns, punida com pena de morte. Mais do que a América do Norte, a Europa, a Ásia, a África e a Oceania, juntas.

Em 2016, foram 343 assassinatos. Foi o ano mais violento desde 1980, quando o Grupo Gay da Bahia (GGB) começou a coletar e registar as estatísticas das violências contra pessoas vitimas da LGBTfobia.

A cada 25 horas, uma pessoa LGBT foi cruelmente assassinada em 2016.

Segundo o relatório divulgado pelo GGB, o número de mortes é crescente: em 2000 foram 130, em 2010 foram 260.

São Paulo lidera as estatísticas com 49 homicídios. A Bahia é o segundo estado mais violento, com 32 assassinados. No Rio Grande do Sul, 15 pessoas LGBTs foram mortas em 2016.

Todos os crimes foram cometidos cruelmente. Em 2016, o vendedor ambulante, Luiz Carlos Ruas, foi espancado até a morte na estação Dom Pedro II, em São Paulo, quando defendia um gay e um travesti; Itaberly Lozano, 17 anos, foi espancado, esfaqueado e carbonizado por ordem da mãe evangélica; em Porto Alegre, um homem transexual, de 17 anos, levou 17 tiros e foi arrastado por um carro.

No dia 10 de setembro de 2017, o banco Santander Cultural antecipou o encerramento da exposição “Queer Museu – Cartografia da Diferença na América Latina”, curada por Gaudêncio Fidélis, em função de uma série de ataques homofóbicos de pessoas da sociedade e de partidos políticos, como o Movimento Brasil Livre (MBL) e o prefeito Nelson Marchezan (PSDB), que em sua página no facebook declarou se tratarem de imagens de zoofilia e pedofilia. A exposição reunia 270 obras de 85 artistas, entre eles, importantes nomes da arte contemporânea, como Adriana Varejão, Fernando Baril, Lygia Clark, Cândido Portinari e Leonilson.

A censura que se colocou, em Porto Alegre, contra a liberdade de expressão da arte e dos artistas autoriza e legitima a repetição dessas violências. Em acordo com o potencial crítico da arte sobre os discursos hegemônicos da sociedade, Psicanalistas pela Democracia repudia o encerramento prematuro dessa exposição e, como forma de resistência contra essa violência duplicada pelo Banco Santander, compartilha algumas das obras que se encontravam expostas para dar acesso àqueles que não tiveram a possibilidade de comparecer.

Corroboramos com o que o jornalista Flávio Ilha escreveu em seu texto para o Jornal Extra-classe, que aponta para os efeitos de devastação provocados por ações retrógradas, conservadores e intolerantes:

O episódio lembra as agressões de Hitler à arte moderna, que tachou de “arte degenerada” as pinturas de Paul Klee, Marc Chagal, Henri Matisse, Paul Gauguin, Lasar Segall, Wassily Kandinski, entre dezenas de outros artistas, e determinou, nos anos de 1930, as bases de uma arte ariana em contraponto à pintura “judia-blochevique”. Em 1937, o regime de Hitler promoveu uma exposição de artistas modernistas propositadamente expostas de modo caótico com o objetivo de inflamar a opinião pública. O resultado, na década seguinte, é bem conhecido.

O relatório de assassinatos LGBT feito pelo Grupo Gay da Bahia pode ser acessado AQUI e mais informações sobre a violência contra LGBTs podem ser obtidas neste SITE. As imagens são de autoria do jornalista Roger Lerina e de outras fontes da internet.